Exercitar a sensibilidade nesse mundo que é tão injusto e cruel ..."
( Atriz Juliette Binoche)
Agregando ideias e sentimentos. Unindo o riso ao lamento. Tudo impulsionado pela necessidade de expressão e de impressão do outro na rotina da vida, mas vida.
O projeto " Há de ser Poeta Há de ser Humano", concretizado no conteúdo desta publicação vai além das páginas, busca a alma.
E assim nasce um projeto coletivo.
Há de SER poeta, idealizado por Aneli Remus Gregório e Marcelo Chagas, busca a inserção da poesia no cotidiano de trabalhadoras e trabalhdores. Mais que poeta, Há de SER humano.
Apresentação da obra - Eliane Debus - Professora do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina .
APRESENTAÇÃO
Manuel de Barros em vários de seus poemas, "teoriza" sobre o fazer poético quando coloca poesia como a infância da língua, a necessidade de escutar atentamente o som das palavras nos seus nascedouros, " no seu primeiro esgar"; o poeta com seus " despropósitos" em olhar atento para as minúcias do cotidiano e seus "desperdícios", redescobre mundos novos e artifícios próprios para narrar sobre eles. Afinal, não habita a poesia nas frestas do dia a dia e o poeta não é um de seus narradores?
O conjunto de 61 poemas, reunidos no livro " Há de ser Poeta Há de ser Humano, reúne 11 escritores. São escritores poetas. Poetas meninas, poetas meninos, que carregam água na peneira; alguns/ uns adentrando o mundo da escrita, outras/os retomando um fazer distanciado no tempo.
Os poemas saem das gavetas, alçam voo e procuram a/o leitora/o.
Poemas do cotidiano particular:
a dor da partida e que pode também ser chegada;
o amor da juventude e o amor maduro;
as alegrias nas minúcias dos encontros e reencontros.
Poemas do cotidiano coletivo:
da ancestralidade que palpita no peito negro;
da liberdade escravizada de toda gente;
dos temores de um país sem identidade;
da necessidade do encontro no abril vermelho.
Não é poesia também um grito-espanto, chamamento para outras escritas, para outros poetas?
Creio que este é um dos propósitos deste livro: podemos ler poesia, ser poesia, fazer poesia!
"Garganta engole
O grito não dadoDesce seco, quadrado
Antes tivesse gritado
O grito guardado"
( Aneli Remus Gregório)
As palavras que não saem
Pela minha boca
Pesam nas minhas pernas
E eu caminho
Na tentativa de que se esvaiam por
Debaixo dos meus pés
Quando isso não acontece
Eu escrevo
( Lidia Remus Gregório)
O despertar
Sempre é ativo
Nada modesto
Tampouco compreensivo
Sempre esbarra com a vida, ativa
Que lhe abre os olhos
Que lhe ordena que seja vivida
Ah, se fosse só isso
Ah, se eu controlasse o compromisso
Se minhas entranhas se ausentassem por hora disso
Será que seria diferente?
Pudera ser displicente?
Tudo passaria de repente?
Ou me dominaria com os dentes?
Demente, sofrido
Te acalma e privilegie o contido
Se torne seu próprio amigo
Chore e ria até que seja ouvido
Mas nunca desista do despertar sugerido
( Marcelo Chagas)
Poesia de todo dia
Um grito e um verso
Um berro e uma rima
Um pensamento e uma linha
Uma dor e um canto
Uma forma de dizer poesia
Um encanto a cada dia
Um espanto com alegria
Um pranto e uma melodia
De tanto, tudo irradia
Um modo de ver poesia
Uma maneira de nostalgia
Um canto para esconder-se, ria!
Uma palavra fria...
Uma frase solta, sem escolta
Escolha escrever poesia
Todo dia de verso, rima, linha
Um grito, berro, pensamento
Escolha viver poesia
Todo dia de encantamento
De todo, tudo é o alimento
Escolha a vida...
Ela é poesia de todo dia
Viva!
( Marta Magda Antunes Machado)
POESIA
Poesia é sentimento e paixão.
Dor e confusão!
Espaço e tempo.
Grito e silêncio, imensidão.
Isso tudo é o/a poeta! No império da solidão.
( João Carlos Nogueira)
Gritaram nesta obra : Ana Carolina da Cruz, Aneli Remus Gregório, Babyton Santos, Marcelo Chagas, Lídia Remus Gregório, Leonardo Salvini, Lino Peres, Neide T. Furlan, Marta Magda Antunes Machado, Miguel Chagas, Marcella Chagas.
Sobre o que sinto
Conversa contida
Na medida que minto
Criança criada, malvada
Deixada largada
Sua cara lavada pressinto.
( Aneli Remus Gregório)
No início eram rosas
Hoje
Tristeza em meio as pétalas caídas.
( Ana Carolina da Cruz)
POEMA PARA O AMOR
O amor não tem dia, hora
Só é agora
Como se não tivesse respeito
E rasgasse o peito
Amor a gente aposta sem pudor
É uma de espécie loteria
Que se permite a dor
Amor, só é amor se for sincero
Aquele que bate autero
E só naquilo que penso, quero e prospero
O amor tem o poder de me colocar
Em todos os lugares, bares
Mas sempre sendo só o que lhe foi relegado: SER AMOR
Talvez por esse motivo eloquente,
O amor jamais será parente
Parente a gente tolera, não esmera
O amor, não, meu senhor
O amor lhe diz tanto
Lhe remete a tantos prantos
E se tu tentasse devendá-lo, conseguirias?
Quem sabe tu podias
Acho que não
Não teria exatidão
Ela me continuou com o amor
E me explicou a solidão
Mas seria o amor definido
Pelo fim imposto pela idade?
Aí, sim, tenho resposta
O que mais pode revigorar o amor,
Que a solidariedade?
( Marcelo Chagas)
Um barco embriagado ao mar
Um barco embriagado ao mar
De tanto aportar e não ficar
E partir sem ter ido
Um barco embriagado ao mar
O que é pior?
Para fica ou para quem se vai?
Quando todo encanto se esvai
Das mãos e das lembranças?
Um barco embriagado ao mar
Será oferenda líquida do filho que retorna
Ou fuga de terras prometidas?
Ou afinal o que é pior?
Quando tudo se trai
De nãos e vinganças?
Um barco embriagado ao mar
Quem será que retorna? Tu ou eu?
Ou algo que das entranhas suga e torna
Sem saber mais o que é pior?
E nem mais perceber que quem
Está embriagado: se o barco, o mar ou eu?
( Lino Peres )
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