terça-feira, 27 de outubro de 2015



PROPOSTA DE CURSO DE EXTENSÃO DE FLUXO CONTÍNUO


1 APRESENTAÇÃO


O Núcleo de Estudos em Linguística Aplicada da Universidade Federal de Santa Catarina (NELA-UFSC) vem realizando um conjunto de pesquisas, desde trabalhos relacionados à conclusão de curso até teses de doutorado, em espaços educacionais formais, nas quais se tem evidenciado uma gama de questões que requerem a transcendência de abordagens diagnósticas de fragilidade, em nome da implementação de ações propositivas que contribuam para qualificar os processos de ensino e aprendizagem em língua materna, sobretudo nas escolas das redes públicas de ensino.
Entendemos que, subjacentemente aos inúmeros fatores implicados em tais fragilidades diagnosticadas, está o processo de formação docente, tanto inicial quanto continuada, haja vista que importantes bases teóricas, em ampla disseminação desde a década de 1990, parecem ainda não ser de domínio de muitos professores em atuação, tanto quanto de licenciandos ou egressos do Curso de Letras Português da UFSC.
Assim considerando, este curso de extensão busca facultar a esse público um conjunto de discussões teórico-epistemológicas e praxiológicas potencialmente articulador de novos modos de conceber o ensino e a aprendizagem em língua materna. Para tanto, organiza-se em quatro grandes módulos: o primeiro deles tematiza fundamentos teórico-epistemológicos propriamente ditos; o segundo focaliza o ensino e a aprendizagem da leitura e análise linguística, concebida como desdobramento do ensino e da aprendizagem da leitura; o terceiro tem como tema o ensino e a aprendizagem da produção textual1 e análise linguística, entendida como desdobramento do ensino e da aprendizagem da produção textual; e o último aborda a alfabetização – processo que deve facultar aos alunos a apropriação do sistema alfabético, dando-lhes condições para o uso da modalidade escrita da língua nas práticas sociais de leitura e de escritura.
Trata-se de uma proposta de curso de extensão de fluxo contínuo, mantido pelo NELA-UFSC, com a participação dos professores, de pós-graduados e pós-graduandos
integrantes do Núcleo. A organização que segue corresponde a uma versão ainda preliminar do desenho do curso piloto, a partir do qual as demais edições seriam redimensionadas.
Importa, enfim, considerar três grandes questões: (i) o objetivo de articular a extensão à pesquisa, tornando a experiência com o curso objeto de tese de doutorado de um dos pós-graduandos do NELA – Anderson Jair Goulart; (ii) a meta de converter todo o material gerado (que não for objeto de tratamento nesta primeira tese) em banco de dados para outras pesquisas do Núcleo; (iii) o propósito de tornar a primeira versão dos materiais produzidos para os módulos como obra paradidática, objetivando publicação em editora comercial.


2 ORGANIZAÇÃO DO CURSO PILOTO


Denominado Ensino e aprendizagem em Língua Portuguesa: enfoque na Educação Básica, o Curso visa ampliar os conhecimentos, por meio de formação continuada, de professores e licenciandos do Curso de Letras Português da UFSC que atuam no ensino de Língua Portuguesa. . Em vista disso, necessário se fez definirmos os dados genéricos atinentes à organização prevista para essa formação, os quais são elencados a seguir:

a) número de horas: 200 horas;
b) público-alvo: professores dos Anos Iniciais e de Língua Portuguesa e licenciandos do Curso de Letras Português da UFSC;
c) modalidade: semipresencial;
d) organização: quatro módulos de estudo, desenvolvidos em quatro meses;
e) período de oferta: de março a junho de 2016;
f) vagas ofertadas: cem vagas2, ocupadas a partir da seguinte prioridade: (i) professores participantes de pesquisa em Tomazoni (2014) e Catoia Dias (2014); (ii) demais participantes das pesquisas do grupo de pós-graduados e pós-graduandos envolvidos no Curso proposto; (iii) pibidianos e alunos do Curso de Letras Português que já atuam no ensino de Língua Portuguesa ; (iv) outros professores da rede pública;
g) encontros presenciais: oito encontros presenciais – dois em cada módulo, quinzenalmente, aos sábados pela manhã, cada um deles com duração de quatro horas;
h) custos: não haverá custos, pois o Curso será oferecido gratuitamente, com materiais postados na versão on-line, na plataforma Moodle da extensão – AVEA do Curso;
i) implementação: NELA-UFSC.


2.1 VINCULAÇÃO


O Curso ora proposto vincula-se:

a) a projetos de pesquisa dos seguintes professores: Mary Elizabeth Cerutti-Rizzatti e Rosângela Pedrallli
b) diretamente a projetos de tese dos seguintes doutorandos: Eloara Tomazoni; Sabatha Catoia Dias; Anderson Jair Goulart; Josa Coelho da Silva Irigoite;
c) indiretamente a projetos de pesquisa e/ou de extensão dos seguintes membros do NELA: Suzianne Mossmann; Karoliny Correia; Hellen Melo Pereira; Simone Lesenhak; Aline Cassol Daga; Kamila Caetano Almeida;; Maíra Emerick; Amanda Chraim; Laiana Abdala; Natassia Alano D’Agostin.


2.2 RESPONSÁVEIS PELO CURSO


No decorrer de seu planejamento e implementação, o Curso será gestado por colaboradores do NELA – na expectativa de ter professores participantes de pesquisas do grupo como consultores e/ou docentes –, contando com a coordenação dos membros elencados em 2.2.1 e 2.2.2.

2.2.1 Coordenação da etapa piloto


A coordenação está sob a responsabilidade da Prof.ª Dr.ª Mary Elizabeth Cerutti-Rizzatti e do doutorando Anderson Goulart.


2.2.2 Subcoordenação

Assumem a subcoordenação as doutorandas Eloara Tomazoni e Sabatha Catoia Dias.


2.3 PRODUÇÃO DOS CAPÍTULOS PARA OS MÓDULOS


Detalhamos, no Quadro 1, como se dará a produção dos capítulos que devem compor os Módulos previstos para o Curso, tanto quanto os prazos e os responsáveis pela elaboração dos textos.

Quadro 1 – Produção dos textos para o Caderno do Curso Ensino e aprendizagem em língua materna: enfoque na Educação Básica

Módulo/Tema Período de oferta Responsáveis pela produção do caderno e pelo módulo Prazo para escrita do material

Módulo 1
Foco: Bases teórico-
epistemológicas de
ancoragem histórico-cultural
Março de 2016 Suziane Mossmann (coordenação); Mary Elizabeth Cerutti-Rizzatti; Josa Coelho Irigoite; Amanda Machado Chraim; Carla Christina de Barros Rosa; Josi Bez; Nani; Aneli Gregório; Camila Fraga. Dezembro de 2015

Módulo 2
Foco: Ensino e
aprendizagem da
leitura/Análise linguística
Abril de 2016 Sabatha Catoia Dias (coordenação); Anderson Goulart; Liliane Souza; Natassia D`Agostin Alano; Aline Cassol (leitora); Andréa Folk; Cristiane Rossato; Andressa da Costa Farias; Jancieli Vieira. Silvana Martendal. Dezembro de 2015

Módulo 3
Foco: Produção
textual/Análise linguística
Maio de 2016 Eloara Tomazoni (coordenação); Karoliny Correia; Hellen M. Pereira, Daniela Carla Soares Scaranto; Nadia Nardi Martins; Josiane Cristina Couto; Marluce Marlene Raulini. Dezembro de 2015

Módulo 4
Foco: Alfabetização
(SEA) Junho de 2016 Rosângela Pedralli (coordenação); Maíra Emerick; Dani; Laiana Abdala; Isabela Machado; Luiza Coelho. Dezembro de 2015
Fonte: Elaborado pelos membros do “Grupo Cultura Escrita e Escolarização”, vinculado ao NELA-UFSC.


2.4 ESTRUTURA DOS MÓDULOS


Apresentamos, no Quadro 2, a estrutura preliminar dos Módulos. Importa registrar que, para compor o Caderno do Curso, os capítulos referentes a cada um desses módulos deverão ter, em média, cinquenta páginas3.


Quadro 2 – Os módulos e os capítulos que devem compor o Caderno do Curso Ensino e aprendizagem em língua materna: enfoque na Educação Básica


MÓDULOS CAPÍTULOS


MÓDULO 1
BASES TEÓRICO-
EPISTEMOLÓGICAS DE
ANCORAGEM HISTÓRICO-
CULTURAL 1.1 Concepções fundantes 1.1.1 Concepção de sujeito 1.1.2 Concepção de língua 1.2 Bases teóricas 1.2.1 Letramento:implicações conceituais 1.2.2 Gêneros do discurso: implicações pedagógicas 1.2.3 Aprendizagem e desenvolvimento: implicações psicológicas

MÓDULO 2
ENSINO E APRENDIZAGEM
DA LEITURA/ANÁLISE
LINGUÍSTICA
2.1 Dimensão intersubjetiva da leitura 2.2 Dimensão intrassubjetiva daleitura 2.3 Análise linguística no ensino e aprendizagem da leitura

MÓDULO 3
PRODUÇÃO TEXTUAL
ESCRITA/ANÁLISE
LINGUÍSTICA 3.1 Condições de produção textual escrita (dimensão intersubjetiva – gêneros do discruso – esferas) 3.2 Implicações conceituais da Linguística Textual no ensino e na aprendizagem da produção textual escrita 3.3 Análise linguística e refacção no ensino e aprendizagem da produção textual escrita

MÓDULO 4
ALFABETIZAÇÃO (SEA) 4.1 Cultura escrita: relações entre letramento e alfabetização 4.2 Concepção de língua subjacente aos diferentes métodos de alfabetização 4.3 Sistema de escrita alfabético
Fonte: Elaborado pelos membros do “Grupo Cultura Escrita e Escolarização”, vinculado ao NELA-UFSC.


3 METODOLOGIA DO CURSO


Oferecido na modalidade semipresencial, o Curso contará com um Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem (AVEA), por meio da Plataforma Moodle, específico para a formação ora proposta, e os materiais serão disponibilizados em versão on-line, nesse mesmo espaço virtual.
Com estrutura similar ao Caderno do Curso, o AVEA também será organizado em Módulos, com conteúdos, recursos didáticos e dispositivos interativos que oportunizem, por meio de atividades colaborativas e individuais, a aprendizagem de conceitos e metodologias no âmbito do ensino da Língua Portuguesa. .
Os capítulos e as atividades de aprendizagem serão, por conseguinte, estruturados de modo a contribuir para a articulação entre os conteúdos e a prática, possibilitando a interação entre os cursistas e a socialização de saberes e experiências que contribuam para a qualificação do ensino da Língua Portuguesa no Ensino Fundamental.
O acompanhamento tutorial será garantido em todo o percurso e realizado pelos autores dos Módulos, tanto a distância quanto nos encontros presenciais.


4 OBSERVAÇÕES FINAIS


O projeto será cadastrado como extensão e como pesquisa ‘guarda-chuva’, passando pelo Comitê de Ética nessa condição, de modo que todos os participantes assinem, no início do Curso, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Ademais, pretendemos que todos os dados gerados ao longo dessa formação continuada possam, efetivamente, converter-se em material de pesquisa. Tendo explicitado essas questões, registramos, por fim, a bibliografia que embasará a elaboração dos textos/capítulos que devem compor os Módulos integrantes do Caderno do Curso.


5 BIBLIOGRAFIA


BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003 [1979].

______. Para uma Filosofia do Ato. Tradução – não revisada e de uso didático e acadêmico – de C. A. Faraco e C. Tezza, a partir da versão em inglês: Toward a Philosophy of the Act. Trad. and notes by Vadim Liapunov. Austin, USA: University of Texas, 1993 [1920-24].
Disponível em: . Acesso em: 05 jun. 2012.

______. Questões de literatura e estética. 6. ed. São Paulo: Hucitec, 2010 [1975].

BARBOSA, M.L.R. Deslindando os usos da escrita nos domínios escolar e familiar: implicações de práticas de letramento no processo de alfabetização. 2014. 390 p. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014.

BARBOSA, M. L. R.; CERUTTI-RIZZATTI, M. E. Domínio dos princípios do sistema
alfabético por parte de alunos alfabetizados com base nos postulados de Emilia Ferreiro. Revista de Letras Olho de Boto, Santarém (PA), ano 2, n. 4, p. 59-82, jan. 2011.

BARTON, D. Literacy: an introduction to the ecology of written language. 2. ed. Oxford, UK: Blackwell, 2007 [1994].

BARTON, D.; HAMILTON, M.; IVANIČ, R. (Eds.). Situated literacies: reading and writing in context. London, UK; New York, USA: Routledge, 2000.

BRITTO, L. P. L. A sombra do caos: ensino de língua x tradição gramatical. Campinas, SP: ABL; Mercado de Letras, 1997.

CERUTTI-RIZZATTI, M.E. Letramento: um conceito em (des)construção e suas implicações/repercussões na ação docente em língua materna. Fórum Lingüístico, Florianópolis, v. 6, n. 2, p. 1-15, jul./dez. 2009.

CERUTTI-RIZZATTI, M.E.; MOSSMANN, S. S.; IRIGOITE, J. C. S. Estudos em cultura escrita e escolarização: uma proposição de simpósio entre ideários teóricos de base histórico-cultural na busca de caminhos metodológicos para pesquisas em Linguística Aplicada. Fórum Linguístico, Florianópolis, v. 10, n. 1, p. 48-58, jan./mar. 2013.

CORREIA, K. O ato de dizer na esfera escolar: reverberações do ideário histórico-cultural no ensino da produção textual escrita. 2013. 386 p. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013.

GEE, J. P. Situated language and learning: a critique of traditional schooling. London, UK; New York, USA: Routledge, 2004.

GERALDI, J. W. A aula como acontecimento. São Carlos, SP: Pedro e João Editores, 2010.

GIACOMIN, L. M. Os conhecimentos gramaticais na escola: 'regras' de um ensino sem regras. 300 p. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013.

GOULART, A. J. Letramento familiar: práticas e eventos de leitura em segmento genealógico familiar com progenitores analfabetos. 249 p. 2012. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012.

IRIGOITE, J. C. S. A aula de português que não acontece como gênero discursivo:
reflexões para além de obviedades. In: Simpósio Internacional Linguagens e Culturas: homenagem aos 40 anos dos Programas de Pós-Graduação em Linguística, Literatura e Inglês da UFSC. Anais... Florianópolis: CCE-UFSC, 2011.

PEDRALLI, R. Usos sociais da escrita empreendidos por adultos alfabetizandos em programa educacional institucionalizado: dimensões extraescolar e escolar. 295 p. 2011. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2011.

STREET, B. Literacy in theory and practice. Cambridge, UK: CUP, 1984.

TOMAZONI, E. Produção textual escrita e escola: um olhar sobre ancoragens e concepções docentes. 2012. 376 p. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012.

VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. Tradução Paulo Bezerra. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009 [1934].

______. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Tradução José Cipolla Neto, Luís Silveira Menna Barreto e Solange Castro Afeche. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003 [1978].

______. The problem of development of higher mental functions. RIEBER, R. W. (Ed.). The collectd works of L.S. Vygotsky. New York: Plenun Press, 1997 [1987]. p.1-28.

VOLÓSHINOV, V. N. El marxismo y la filosofía del lenguaje. Prólogo y traducción Tatiana Bubnova. 1. ed. Buenos Aires: Godot, 2009 [1929].

VÓVIO, C. L. Entre discursos: sentidos, práticas e identidades leitoras de alfabetizadores de jovens e adultos. 304 fls. 2007. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) – Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada do IEL-UNICAMP, Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP), 2007.

Concepções fundantes - sujeito, língua e letramento


I Ciclo de Debates do Curso de extensão:

Ensino e aprendizagem em Língua Portuguesa: enfoque na Educação Básica

Módulo 1: Bases teórico-epistemológicas de ancoragem histórico-cultural

Grupo: Amanda M. Chraim, Aneli R. Gregorio, Camila F. Fraga, Carla Christina de B. Rosa, Denise de S. Gonçalves, Josa C. Irigoite, Suziane da S. Mossmann

Coordenadora: Suziane da S. Mossmann

Concepções fundantes (Leituras finalizadas)


- Sujeito

O trabalho com as discussões envolvendo a linguagem, na perspectiva histórico-cultural, entende a subjetividade na relação com a alteridade como constitutiva, ou seja, a própria compreensão de sujeito como sujeito que vive e age no mundo constitui-se pela alteridade, na relação eu - outro. Desse modo, não nascemos prontos e, necessariamente, nossas relações sociais se dão num cronotopo – nos constituímos nas interações sociais premidos pela cultura, pela sociedade e pela história. Somos sujeitos inconclusos e na relação com o outro nossa subjetividade sempre está em movimento. Assim, o sujeito é compreendido no seu contínuo processo de ser/estar no mundo em relação com os outros, por isso inconcluso, movendo-se e constituindo-se no mundo de forma agentiva e protagonista, refratando suas vivências. O processo de constituição do sujeito se dá pelo uso da linguagem na interação com o outro, pois é a linguagem que faculta e medeia as interações entre os sujeitos. Desse modo, é por meio da língua que o sujeito materializa seu ato de dizer, apropriando-se da cultura tornando intrassubjetivo o que um dia foi intersubjetivo. Fazendo parte de uma cadeia discursiva, é mais uma voz no simpósio social, portanto, não é ‘adâmico1’. Nesse ato de dizer, encontra-se o sujeito singular, portanto, não intercambiável, já que ninguém pode ocupar seu lugar no mundo. O sujeito é responsável inteiramente pelo seu pensamento, pelo que diz, pelo seu agir e, ao dizer/agir está respondendo. É convocado pelo outro no ato que lhe compete e que exige de si a ‘assinatura’, o reconhecimento. O ato é responsável porque é unicamente seu. Compreender o sujeito datado e situado culturalmente, é compreendê-lo, necessariamente, na sua singularidade enunciando-se a alguém, em algum tempo e espaço específicos, de quem obtém resposta. Nessa relação, constitui-se, não é instituído; é pensado por outrem, nessa condição pensa. Pensar a sala de aula a partir dessa concepção é compreender a complexidade das interações decorrentes do processo pedagógico tendo em vista a singularidade de cada sujeito envolvido.

Conceitos-chave: constituição x instituição; alteridade; responsável; responsivo; consciente; datado; histórico; cronotopo; refração.

Leituras realizadas:

GERALDI, J. W. A linguagem e a constituição da subjetividade. In: _____. A aula como acontecimento. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010a.

_____. Sobre a questão do sujeito. In: _____. Ancoragens: estudos bakhtinianos. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010b.

MIOTELLO, V. Discurso da ética e a ética do discurso. São Carlos: Pedro & João Editores, 2011.



- Língua

Como resposta a modelos linguísticos em que a língua era tomada abstratamente, ora como representação mental, entendimento advindo do subjetivismo idealista, ora como sistema de signos, conceituação defendida no objetivismo abstrato, Bakhtin [Volochínov], sem negar essas orientações, mas dialogando com elas, apresenta uma compreensão de língua numa perspectiva dialógica. A língua, na perspectiva histórico-cultural, constitui-se ao mesmo tempo em que faculta a constituição dos sujeitos em interação, mediando a relação entre eles. A palavra dos sujeitos em interação, ou o signo ideológico, é um elo da cadeia ideológica, ou seja, todo enunciado se dá numa multiplicidade de vozes que se relacionam dialogicamente. A língua, desse modo, interpõe-se entre o homem e o mundo e, ao mesmo tempo, entre os sujeitos. Nessa relação intersubjetiva, é o interlocutor que orienta o enunciado do locutor e este, por sua vez, busca, ao mesmo tempo em que a amplia, na cadeia ideológica da qual faz parte, o seu dizer. Os sujeitos, bem como seus enunciados são marcados pelo espaço e pelo tempo sócio-histórico. Na perspectiva histórico-cultural, o trabalho pedagógico no qual a língua é tomada como objeto de ensino precisa levar em conta o caráter histórico e constitutivo da língua, ou seja, é necessário superar a tradição escolar que compreende a língua como um sistema fechado e acabado, portanto, pronto para ser apreendido.

Conceitos-chave: interação; objeto social; perspectiva histórico-cultural; signo ideológico; axiologia; historicidade da linguagem; sistematização aberta.

Leituras realizadas:

BAKHTIN, M. M. [VOLOCHÍNOV, V. N.]. Filosofia da linguagem e psicologia objetiva. In: _____. Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. 16. ed. São Paulo: Hucitec, 2014 [1929].

BAKHTIN, M. M. [VOLOCHÍNOV, V. N.]. A interação verbal. In: _____. Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. 16. ed. São Paulo: Hucitec, 2014 [1929].

GERALDI, J. W. Linguagem e trabalho linguístico. In: _____. Portos de passagem. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2013 [1991].

BRITTO, R. P. L. Educação linguística, formação e emancipação. In: _____. Inquietudes e desacordos: a leitura além do óbvio. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2012.

CORREIA, K. O ato de dizer na esfera escolar: reverberações do ideário histórico-cultural no ensino da produção textual escrita. Dissertação de Mestrado. p. 386. Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2013.


-Letramento

O fenômeno do letramento pode ser compreendido como toda prática social que envolve a escrita, estando esta materializada ou inferida. Para compreender esse fenômeno é necessário considerar os seguintes conceitos: eventos (HEATH, 1982) e práticas de letramento (STREET, 1988); modelos autônomo e ideológico de letramento (STREET, 1984; 1988; 2003). Cabe ressaltar que tais conceitos não se apresentam como categorias dicotômicas já que são complementares do ponto de vista da compreensão de questões relacionadas à modalidade escrita da língua. A diferença fundamental entre eventos e práticas de letramento encontra-se no fato de que os eventos são visíveis, ou seja, são fotografáveis, já as práticas são vivenciadas. Podemos entender os eventos de letramento como toda interação social que envolve a escrita, materializada ou inferida, e as práticas de letramento como o que dá sustentação aos eventos, já que implicam valoração, significados, modos de vida, ideologias. À medida que as práticas vão se ampliando, os eventos também vão se modificando por conta do modo como os sujeitos participam nesses eventos. Cabe ressaltar que os eventos de letramento são irrepetíveis dada a singularidade e o processo contínuo de constituição dos sujeitos envolvidos. Quanto aos modelos autônomo e ideológico de letramento, no primeiro, a escrita é tomada por ela mesma, abstraída do uso, por isso, desvinculada da cultura e dos aspectos sociais implicados nas diferentes formas de se lançar mão da escrita em determinados contextos. Já o modelo ideológico leva em conta os usos sociais da escrita, dessa forma, a escrita é compreendida dentro da cultura, não sendo imune aos aspectos socioculturais e históricos. As pessoas agenciam práticas de letramento nos eventos de letramento dos quais participam, e esses se diferenciam conforme os diferentes domínios da vida, em diferentes culturas e períodos históricos. São as atitudes e valores, nossas práticas, que temos a respeito do letramento que guiam nossas ações em relação à escrita. Desde a infância vivenciamos diversos eventos de letramento e ampliamos nossas práticas ao longo dos anos. Refletindo sobre as práticas de letramento no espaço escolar, compreendemos que as práticas pedagógicas devem facultar aos alunos situações em que vivenciem eventos de letramento diversos que incidam nas suas práticas, a fim de ampliá-las.

Conceitos básicos: letramento; alfabetização; agência de letramento; modelo autônomo; modelo ideológico; eventos de letramento; práticas de letramento.

Leituras realizadas:

KLEIMAN, A. B. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. In: _____. (Org.). Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. 2. ed. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2012 [1995].

ALMEIDA, K. C. Sobre vozes e tensões: implicações de práticas de letramento em relações intersubjetivas na esfera jurídica. Dissertação de Mestrado. p. 323. Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2014.

Gêneros do discurso: implicações pedagógicas

Boa leitura  na dissertação de mestrado em linguística de Josa Coelho S. Irigoite. Segue link.

file:///home/chronos/u-8059913a6bbe8aa480129a1a20d350f71f8b1d54/Downloads/excerto%20Disserta%C3%A7%C3%A3o_Josa%20(1).pdf

Discutindo as bases teórico-epistemológicas de ancoragem histórico-cultural

Aprendizagem e desenvolvimento: implicações psicológicas.

Sugiro a leitura do texto abaixo de Josa Coelho Irigoite. Segue link.

file:///home/chronos/u-8059913a6bbe8aa480129a1a20d350f71f8b1d54/Downloads/Tese_Josa%20(Vigotski).pdf

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Assentamento "Toninho" em Ponte Alta - SC


Estivemos no dia 17/10/2015 no assentamento de mais oito famílias. Foi um dia chuvoso e com muito barro. Mas havia também muita alegria e esperança.





segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Viajando com as irmãs / agosto 2015


Oeste catarinense nos aguarda. Minha linda Chapecó.
No caminho...























sábado, 15 de agosto de 2015

FORMATURA - ISAURA


O esforço. A conquista. A alegria de um projeto cumprido. O desafio do novo. A vida é feita desses movimentos. Enquanto nos sentirmos embalamos estaremos curtindo a vida. Linda filha,
que sua vida tenha sempre esses momentos e que cada vez mais sinta-se  radiante.


quarta-feira, 29 de julho de 2015

sobre a questão do sujeito

Pensamento de Bakhtin  e seu  círculo a respeito do sujeito.

Sujeito responsável : ser uno /participa /assinar. O ato realmente realizado em seu todo indivisível é mais do que racional ele é responsável.

Sujeito consciente: contraposição entre eu e o outro. Só pode ser experimentado através da palavra. É pela língua materna que ocorre o primeiro despertar da consciência. Diálogo inconcluso- única forma de expressão verbal da autêntica vida do homem. Sujeito consciente é socialmente construído. O ato consciente realizado pelo sujeito é fundado na sua relação com a linguagem. Consciência não é o ponto de partida, mas pontos de estados momentâneos, incessante e ativamente instabelizados pela ação responsável. Construído na interação.

Sujeito respondente: responsividade - responsabilidade.Toda ação do sujeito é sempre uma resposta a uma compreensão de outra ação e que provocará novamente uma resposta - encadeamento infinito.
Somos agentivos - somente agindo somos o que somos. A constituição social do sujeito é flutuante e ininterruptamente em constituição.

Sujeito incompleto, inconcluso e insolúvel: excedente de visão/ de distância (exotopia) e de acabamento. Incompletude fundante. Para viver preciso ser inacabado, aberto para mim. Ser-evento. Único.

Sujeito datado: Temporalidade da vida humana. No tempo grande nada desaparece sem deixar sinal. Tudo renasce para uma nova vida. Deixamos hoje rastros do passado no que será futuro.

Sujeito fora do comando: Sujeito que está sempre se fazendo, sempre inconcluso, nunca igual a si mesmo, e não encontrará integralidade que o conforte.Sujeito que é história junto com  a história de outros. Entre os centros eu e o outro que todos os momentos concretos do ser se distribuem e arranjam.

Para lembrar:

Leitor : não comparece desnudado
             participa da compreensão construída
             reorienta diferentes direções

Compreensão: profunda, substancial, percepção
                        compreensão recíproca entre séculos,povos,cultura assegura a complexa unidade de                             toda humanidade. Revela-se no grande tempo.

                                             Arte e responsabilidade - Bakhtin



Resumo do material lido no grupo de estudos - UFSC - Curso de Extensão - Língua portuguesa.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Política e Cidadania

 Desculpa-me, mas preciso iniciar meu comentário dizendo: ou você é muito ingênuo ou muito cínico e malandro. Explico:
1) As mudanças de que você fala e critica o Lula por não tê-las feito são chamadas de mudanças estruturais. Exatamente por se tratar de alteração (mudança) de estrutura sua implementação passa pelo jogo de interesses econômicos, políticos, culturais, etc. Num País como o Brasil, que tem uma elite egoísta, entreguista, truculenta e GANANCIOSA qualquer mudança estrutural enfrenta enormes resistência.
2) Para realizar reformas estruturais importantes como, por, exemplo, regulação da mídia; taxação das grandes fortunas; redução da especulação financeira; etc, é necessário grande apoio popular e envolvimento efetivo das forças progressistas. Neste caso não se deve confundir apoio popular com popularidade de um governo.
2.1) O efetivo apoio popular pressupõe organizações da sociedade civil (partidos políticos sólidos, sindicatos, associações, cooperativas, etc.) fortes e bem estruturadas. Mais do que isso, exige consciência de cidadania. Condições não disponíveis ao Governo Lula.
2.2) Por falar em consciência de cidadania, é forçoso lembrar que, infelizmente, nós brasileiros somos um povo ainda muito alienado política e culturalmente, certamente e, em grande parte, pelo "trabalho" da grande mídia e pela política educacional e cultural alienante e bestializante "fornecida", ao longo de vários séculos, pela elite egoísta e mal-intencionada de nosso País.
2.3) Cidadão, você acha que uma população que assiste programas de televisão como Big Brother, Caldeirão do Huk, Faustão, Gugu, Xuxa, Ana Maria Braga, Fátima Bernardes, Silvio Santos, Adriana Galisteu, Angélica, Sabrina Sato, sem falar nas trocentas novelas diárias garantiria APOIO POPULAR para as mudanças estruturais que você exigiu do Lula?
3) A implementação de mudanças estruturais, em última análise, significa disputa e deslocamento de poder, gerando muitos conflitos de interesses e muita tensão política. Quanto mais benéficas à maioria da população maior serão as pressões exercidas pelos grupos econômicos e políticos dominantes que, por sua vez, detém os grandes meios de comunicação.
3.1) Quanto à utilização dos meios de comunicação para pressionar em favor dos interesses dominantes creio que a experiência vivida nos últimos 12 anos dispensa qualquer exemplo, não é mesmo, cidadão?
4) A implementação de mudanças estruturais efetivas também pressupõe uma consciência político-cultural que valorize o interesse coletivo, a separação do público e privado.
4.1) Nós, brasileiros, somos exatamente o contrário. Sempre que for possível levar vantagem sobre o que é público ou coletivo não perdemos tempo!! Esta prática do "favorzinho" no serviço público é conhecida de todos nós (exame ou consulta médica sem respeitar a fila de espera, conseguida por um político ou um servidor "amigo"; a matrícula do filho no colégio em detrimento de outros; a "carona" com o veículo público; etc.), dirigir pelo acostamento, etc.
4.2) Neste sentido é importante lembrar de uma pesquisa feita, se não me falha a memória, pela ONG Transparência Brasil, em que cerca de 75% dos entrevistados responderam que acham "justo", quando se está no exercício de um cargo público ajudar os parentes e amigos. Mais, afirmaram que se viessem a ocupar um cargo público fariam exatamente isto. Você acha que com essa "consciência" a população apoiaria efetivamente mudanças estruturais importantes?
5) Por tudo o que foi dito, deve ter ficado claro que mudanças estruturais não se faz por obra de um "salvador da pátria", ou de um governante "super herói", mas sim com debates e disputas efetivas na sociedade.
6) Você que deseja essa mudança comece fazendo a diferença, percebendo esses interesses e se colocando como sujeito pensante e participativo nos movimentos sociais e na vida política brasileira.
   

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Comemorando vitórias


Participar da formatura do Carlos William é comemorar o resultado de esforços e muita dedicação .

Teremos um dentista responsável e humano. Parabéns ao mais novo profissional.








domingo, 25 de janeiro de 2015

Final de semana em Meia Praia - Balneário Camboriú

Família é coisa pra se guardar dentro do peito, dentro do coração...






sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Movimento Nacional - Passe Livre - 23.01.2015

Lutamos por qualidade no transporte público. Ar condicionado nos ônibus, mais horários, melhor frota, preços justos das passagens. Lute você também. Qualidade de vida passa também por isso!!


Verão 2015 - Floripa. Lembranças maravilhosas!!

Bar do Arantes (Pântano do Sul) , praia Brava, Igreja matriz ( centro de Floripa)







domingo, 11 de janeiro de 2015

Final de 2014 e 1º de Ano de 2015.

Foi diferente, pois não fomos ao sítio no Alto da Serra devido a chuva intensa. Ficamos na Chácara da Aide e Reni.  Estava maravilhoso!! Algumas lembranças fotografadas.