terça-feira, 27 de outubro de 2015

Concepções fundantes - sujeito, língua e letramento


I Ciclo de Debates do Curso de extensão:

Ensino e aprendizagem em Língua Portuguesa: enfoque na Educação Básica

Módulo 1: Bases teórico-epistemológicas de ancoragem histórico-cultural

Grupo: Amanda M. Chraim, Aneli R. Gregorio, Camila F. Fraga, Carla Christina de B. Rosa, Denise de S. Gonçalves, Josa C. Irigoite, Suziane da S. Mossmann

Coordenadora: Suziane da S. Mossmann

Concepções fundantes (Leituras finalizadas)


- Sujeito

O trabalho com as discussões envolvendo a linguagem, na perspectiva histórico-cultural, entende a subjetividade na relação com a alteridade como constitutiva, ou seja, a própria compreensão de sujeito como sujeito que vive e age no mundo constitui-se pela alteridade, na relação eu - outro. Desse modo, não nascemos prontos e, necessariamente, nossas relações sociais se dão num cronotopo – nos constituímos nas interações sociais premidos pela cultura, pela sociedade e pela história. Somos sujeitos inconclusos e na relação com o outro nossa subjetividade sempre está em movimento. Assim, o sujeito é compreendido no seu contínuo processo de ser/estar no mundo em relação com os outros, por isso inconcluso, movendo-se e constituindo-se no mundo de forma agentiva e protagonista, refratando suas vivências. O processo de constituição do sujeito se dá pelo uso da linguagem na interação com o outro, pois é a linguagem que faculta e medeia as interações entre os sujeitos. Desse modo, é por meio da língua que o sujeito materializa seu ato de dizer, apropriando-se da cultura tornando intrassubjetivo o que um dia foi intersubjetivo. Fazendo parte de uma cadeia discursiva, é mais uma voz no simpósio social, portanto, não é ‘adâmico1’. Nesse ato de dizer, encontra-se o sujeito singular, portanto, não intercambiável, já que ninguém pode ocupar seu lugar no mundo. O sujeito é responsável inteiramente pelo seu pensamento, pelo que diz, pelo seu agir e, ao dizer/agir está respondendo. É convocado pelo outro no ato que lhe compete e que exige de si a ‘assinatura’, o reconhecimento. O ato é responsável porque é unicamente seu. Compreender o sujeito datado e situado culturalmente, é compreendê-lo, necessariamente, na sua singularidade enunciando-se a alguém, em algum tempo e espaço específicos, de quem obtém resposta. Nessa relação, constitui-se, não é instituído; é pensado por outrem, nessa condição pensa. Pensar a sala de aula a partir dessa concepção é compreender a complexidade das interações decorrentes do processo pedagógico tendo em vista a singularidade de cada sujeito envolvido.

Conceitos-chave: constituição x instituição; alteridade; responsável; responsivo; consciente; datado; histórico; cronotopo; refração.

Leituras realizadas:

GERALDI, J. W. A linguagem e a constituição da subjetividade. In: _____. A aula como acontecimento. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010a.

_____. Sobre a questão do sujeito. In: _____. Ancoragens: estudos bakhtinianos. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010b.

MIOTELLO, V. Discurso da ética e a ética do discurso. São Carlos: Pedro & João Editores, 2011.



- Língua

Como resposta a modelos linguísticos em que a língua era tomada abstratamente, ora como representação mental, entendimento advindo do subjetivismo idealista, ora como sistema de signos, conceituação defendida no objetivismo abstrato, Bakhtin [Volochínov], sem negar essas orientações, mas dialogando com elas, apresenta uma compreensão de língua numa perspectiva dialógica. A língua, na perspectiva histórico-cultural, constitui-se ao mesmo tempo em que faculta a constituição dos sujeitos em interação, mediando a relação entre eles. A palavra dos sujeitos em interação, ou o signo ideológico, é um elo da cadeia ideológica, ou seja, todo enunciado se dá numa multiplicidade de vozes que se relacionam dialogicamente. A língua, desse modo, interpõe-se entre o homem e o mundo e, ao mesmo tempo, entre os sujeitos. Nessa relação intersubjetiva, é o interlocutor que orienta o enunciado do locutor e este, por sua vez, busca, ao mesmo tempo em que a amplia, na cadeia ideológica da qual faz parte, o seu dizer. Os sujeitos, bem como seus enunciados são marcados pelo espaço e pelo tempo sócio-histórico. Na perspectiva histórico-cultural, o trabalho pedagógico no qual a língua é tomada como objeto de ensino precisa levar em conta o caráter histórico e constitutivo da língua, ou seja, é necessário superar a tradição escolar que compreende a língua como um sistema fechado e acabado, portanto, pronto para ser apreendido.

Conceitos-chave: interação; objeto social; perspectiva histórico-cultural; signo ideológico; axiologia; historicidade da linguagem; sistematização aberta.

Leituras realizadas:

BAKHTIN, M. M. [VOLOCHÍNOV, V. N.]. Filosofia da linguagem e psicologia objetiva. In: _____. Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. 16. ed. São Paulo: Hucitec, 2014 [1929].

BAKHTIN, M. M. [VOLOCHÍNOV, V. N.]. A interação verbal. In: _____. Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. 16. ed. São Paulo: Hucitec, 2014 [1929].

GERALDI, J. W. Linguagem e trabalho linguístico. In: _____. Portos de passagem. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2013 [1991].

BRITTO, R. P. L. Educação linguística, formação e emancipação. In: _____. Inquietudes e desacordos: a leitura além do óbvio. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2012.

CORREIA, K. O ato de dizer na esfera escolar: reverberações do ideário histórico-cultural no ensino da produção textual escrita. Dissertação de Mestrado. p. 386. Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2013.


-Letramento

O fenômeno do letramento pode ser compreendido como toda prática social que envolve a escrita, estando esta materializada ou inferida. Para compreender esse fenômeno é necessário considerar os seguintes conceitos: eventos (HEATH, 1982) e práticas de letramento (STREET, 1988); modelos autônomo e ideológico de letramento (STREET, 1984; 1988; 2003). Cabe ressaltar que tais conceitos não se apresentam como categorias dicotômicas já que são complementares do ponto de vista da compreensão de questões relacionadas à modalidade escrita da língua. A diferença fundamental entre eventos e práticas de letramento encontra-se no fato de que os eventos são visíveis, ou seja, são fotografáveis, já as práticas são vivenciadas. Podemos entender os eventos de letramento como toda interação social que envolve a escrita, materializada ou inferida, e as práticas de letramento como o que dá sustentação aos eventos, já que implicam valoração, significados, modos de vida, ideologias. À medida que as práticas vão se ampliando, os eventos também vão se modificando por conta do modo como os sujeitos participam nesses eventos. Cabe ressaltar que os eventos de letramento são irrepetíveis dada a singularidade e o processo contínuo de constituição dos sujeitos envolvidos. Quanto aos modelos autônomo e ideológico de letramento, no primeiro, a escrita é tomada por ela mesma, abstraída do uso, por isso, desvinculada da cultura e dos aspectos sociais implicados nas diferentes formas de se lançar mão da escrita em determinados contextos. Já o modelo ideológico leva em conta os usos sociais da escrita, dessa forma, a escrita é compreendida dentro da cultura, não sendo imune aos aspectos socioculturais e históricos. As pessoas agenciam práticas de letramento nos eventos de letramento dos quais participam, e esses se diferenciam conforme os diferentes domínios da vida, em diferentes culturas e períodos históricos. São as atitudes e valores, nossas práticas, que temos a respeito do letramento que guiam nossas ações em relação à escrita. Desde a infância vivenciamos diversos eventos de letramento e ampliamos nossas práticas ao longo dos anos. Refletindo sobre as práticas de letramento no espaço escolar, compreendemos que as práticas pedagógicas devem facultar aos alunos situações em que vivenciem eventos de letramento diversos que incidam nas suas práticas, a fim de ampliá-las.

Conceitos básicos: letramento; alfabetização; agência de letramento; modelo autônomo; modelo ideológico; eventos de letramento; práticas de letramento.

Leituras realizadas:

KLEIMAN, A. B. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. In: _____. (Org.). Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. 2. ed. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2012 [1995].

ALMEIDA, K. C. Sobre vozes e tensões: implicações de práticas de letramento em relações intersubjetivas na esfera jurídica. Dissertação de Mestrado. p. 323. Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2014.

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